Brasil de volta ao Mapa da Fome e algumas reflexões
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Imagem: Unsplash - Eduardo Soares |
A alimentação faz parte das nossas vidas, sem alimentos não poderíamos viver ou ter saúde. A alimentação é complexa e envolve o meio em que se vive, a cultura, as crenças, a política, os recursos que dispomos etc.
Este mês matérias constataram algo que grande parte dos brasileiros já vem sentindo nos últimos tempos: nos alimentar com qualidade está cada vez mais caro e por consequência, cada vez mais inacessível a uma parte importante da população. Em nutrição chamamos isso de insegurança alimentar.
Esse mês o Brasil voltou ao Mapa da Fome das Nações Unidas. Essa classificação ocorre quando mais de 2,5% da população passa fome. Hoje, nosso país mostra uma grave realidade em que pelo menos 4,1% da população vem sofrendo de fome crônica. Estamos acima da média mundial.
Essa é uma realidade difícil de engolir. Como falar sobre alimentação, sobre saúde em uma sociedade faminta? Esse é um tema que passo algum tempo refletindo quando quero me comunicar, falar sobre nutrição, sobre vegetarianismo, sobre ativismo. Muitas vezes é doloroso para mim como nutricionista e com certeza é muito mais doloroso para cerca de 15 milhões de brasileiras(os).
Entretanto, são nas horas mais difíceis que nós devemos saber como nos erguer e nos manter em pé. São nessas horas que devemos nos lembrar que nós defendemos o que é importante para nós. Políticas públicas para geração de emprego e renda, políticas públicas em alimentação e nutrição e nisso a importância de se falar de nutrição, em defesa da comida no prato e até do vegetarianismo se pensarmos em produção de alimentos e num sistema alimentar sustentável.
Uma alimentação saudável, em um sistema alimentar saudável e sustentável não precisa de "firulas", é simples e acessível à maior parte da população. Arroz, feijão, folhas, verduras, legumes, frutas, sementes etc. Nosso país é um grande produtor de alimentos, mas infelizmente um dos países mais desiguais do mundo. Valorizar quem produz, evitar o uso de venenos, preservar nossa terra, valorizar nossa cultura alimentar e evitar o sofrimento de bilhões de animais por ano. Essa é a alimentação que eu defendo.
É essencial ao falar sobre nutrição com vocês, saber que mantenho meus dois pés no chão, centrada no que faz sentido do ponto de vista científico e com uma visão ampla do nosso contexto. Espero do fundo do coração que no nosso futuro não encontremos mais arroz quebrado, soro de leite (no lugar do leite da vaca), ponta de macarrão e filas de pessoas buscando por ossos.
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